Pensamento Integral na Era da Transformação
As últimas e as próximas de... Marco de Abreu (Mar.2025)
No ‘mapa das 2 curvas’ do Barkana Institute apresenta-se a curva vermelha (convexa) dos sistemas dominantes (mundojogos degenerativos - sociedades tradicionais e de mercado) e a curva verde (concova) dos sistemas emergentes (mundojogos regenerativos - sociedades regenerativas).
A sessão 18, de acesso livre, do programa online de criação de mundojogos regenerativos introduz o mapa das 2 curvas.
Quando o sistema dominante começa a perder a sua força (entra em crise) e os sistemas emergentes ganham consistência e escala (início da primeira maioria) acontece a transição entre o sistema que morre e o sistema que nasce (a seta a preto na imagem). Desde que nasci no início da década de 1970 assisti e fui participante a vários níveis destas mudanças, que aconteceram em várias escalas: - alguns exemplos: (i) Europa sem União Europeia para a União Europeia; (ii) Portugal de ditadura a democracia; (iii) sociedade sem internet para com internet; (iv) de telefones a telemóveis; (v) de alimentação ‘normal’ para alimentação 100% vegetal; (vi) de um mundo sem IA para um mundo com IA.
Robb Smith do Integral Life Practice (teoria integral) fala da metacrise, ou seja, uma convergência de várias crises em vários sistemas (mundojogos), que estão interligados e as crises potenciam-se umas as outras, quebrando a coerência em todos os aspectos das sociedades e da vida humana. Identifica cinco crises (na Teoria U fala-se das 3 divisões):
Ecológica. A atividade humana é a maior força geológica do planeta. Mudanças climáticas, perda de biodiversidade e degradação ecológica já afetam nossas sociedades. Na Teoria U faz parte da ‘divisão ecológica’ em que o ‘Eu’ vive separado na ‘Natureza’.
Significado. As pessoas enfrentam confusão existencial, depressão e perda de propósito. Estamos presos entre mitologias/ narrativas ultrapassadas e um modernismo reducionista que falha em oferecer sentido. Na Teoria U faz parte da ‘divisão espiritual’ em que o ‘Eu’ vive separado de si próprio.
Hiperrealidade. Vivemos cada vez mais num mundo de símbolos desconectados da realidade (mundos de fantasia como se refere no Possibility Management) A política, a economia e a cultura estão sendo redefinidas por narrativas artificiais e manipuladoras. Na Teoria U faz parte da ‘divisão social’ em que o ‘Eu’ vive separado do ‘Outro’.
Singularidade Tecnológica. A IA avança para todas as áreas das sociedades e os mundojogos emergentes tem o potencial para reforçar estruturas neo-feudais, onde o poder e a riqueza se concentram ainda mais. Os sistemas de governação não estão preparados para este impacto/ realidade. Na Teoria U faz parte da ‘divisão social’ em que o ‘Eu’ vive separado do ‘Outro’.
Governação global. A ordem mundial está em desintegração. O ressurgimento do imperialismo e autoritarismo, bem como avunerabilidade económica, são sintomas de um colapso estrutural mais profundo das democracias modernas. Na Teoria U faz parte da ‘divisão social’ em que o ‘Eu’ vive separado do ‘Outro’.
Bruce Limpton no livro Spontaneous Evolution explora a evolução cultural em torno da polaridade espiritualidade / materialismo, indicando que estamos na quinta transição (ou seja, é ciclico e já passamos por aqui), do materialismo científico (hegemonia do materialismo) para o holismo (balanceamento entre materialismo e espiritualismo). Um dos marcadores desta transformação é a convergência das múltiplas crises. O Bruce Limpton torna visível as estruturas memeticas que estão operar em cada civilização, quais os mapas mentais e como respondem as questões fundamentais da existência humana (de onde viemos ? porque estamos aqui ? e para onde vamos ?).
No meu caminho, as leituras na segunda metade dos anos de 2000, em particular do Fritjof Capra abriram-me para o que se estava a passar no Mundo (foi o meu co-orientador de doutoramento, o Rodrigo Magalhães que me introduziu). Cheguei a esta ideia de ‘colapso sistémico’ no início da década de 2010 pelos cursos do Chris Martenson, um dos pioneiros nesta viagem com o seu ‘crash course’ (foi o José Soutelinho que me introduziu). Bem como através do Movimento Transição que trabalhava a tomada de consciência e a construção de resiliência (foi o Claudian Dobos que me introduziu). Mais tarde os trabalhos do Derrick Jensen (foi o Possibility Management e o Clinton Callahan que me introduziu). Notem o quão importante foi para mim estar em comunidade.
Ou seja, estamos em transformação: como o Robb Smith designa, a Era da Transformação; uma transformação em vários planos, em vários sistemas e em diferentes escalas, simultaneamente. Usando o framework do Iceberg, do pensamento sistémico, a transformação acontece quando mudamos os mapas mentais, o nível mais fundo do Iceberg depois do eventos, padrões e estruturas.
A sessão 20, de acesso livre, do programa online de criação de mundojogos regenerativos introduz o framework do iceberg. Uma outra referência pode ser encontrada no link.
A complexidade aumenta exponencialmente. Na situação em que os sistemas emergentes estão prontos para acomodar os sistemas em crise, a transição faz-se como parte da vida quotidiana das sociedades, como vimos com a internet, telemóveis, União Europeia e a Democracia em Portugal; e os sistemas podiam apoiar, como foi o caso dos Estados Unidos da América no pós-guerra com a Europa ou da União Europeia com a transição Democracia em Portugal. Todos estes exemplos representam profundas mudanças nos mapas mentais que influenciam todas as disciplinas do saber.
Acontece que não há alternativas. O sistema emergente (sociedades de impacto e regenerativas) não tem escala e a possibilidade do colapso acontecer ao mesmo tempo em todo o lado é cada vez maior - em certa medida já esta a acontecer como o livro Deep Adaptation, Jem Bendell e Rupert Read (que a Bambual Portugal vai editar este ano em lingua portuguesa) ilustra, a partir da análise das implicações das alterações climáticas (crise ecológica) e do possível colapso da sociedade e como podemos nos adaptar a essa realidade. O livro é uma chamada à realidade e as limitações da ciência e dos paradigmas actuais. E explora as implicações psicológicas e espirituais do colapso, discutindo como podemos facilitar conversas e espaços que promovam a cura, o luto e a conexão durante o colapso. É uma convocação, uma chamada, a todos nós para nos preparamos, para fazermos o nosso trabalho individual e construirmos equipas e comunidades que permitam lidar com a transformação. As palavras chave são Resiliência, Renúncia, Restauração, Reconciliação.
A necessidade de novas narrativas surge no trabalho do Charles Eisenstein em particular nos seus livros The Ascent of Humanity e The More Beautiful World Our Hearts Know Is Possible.
Estas dimensões de cura e possibilidade foi vivida no laboratório social do João Sem Medo durante a década de 2010 na cidade de Lisboa. Com a crise económica de 2008 e as altas taxas de desemprego, o João Sem Medo foi esse espaço de cura, de renúncia, de luto e largar velhas histórias, de criar espaços de resiliência, de fazermos em conjunto, criando condições para a restauração e reconciliação. O João Sem Medo foi uma experimentação nesta direcção, na dimensão de Lisboa, durante a década passada, que segurou o espaço para a cura e criou possibilidades para as pessoas lidarem com a crise e a consequente transformação; de restauro e reconciliação. Criou possibilidades nas vidas das pessoas.
O meu foco e acção é na construção das sociedades regenerativas e estou consciente da transformação que cada um de nós terá que fazer para lidar com todo este processo. Estou particularmente interessado na iniciação de jovens as sociedades regenerativas. A minha transformação começou em 2005 e penso que a minha história e experiência podem ajudar muitas outras pessoas a passar por este processo de forma mais rápida e eficaz. É por isso que estou a escrever um livro sobre as sociedades regenerativas e a minha caminhada para chegar a este post hoje.
E uma das competências base é a capacidade de ver a ‘big picture’, da visão e pensamento sistémico, capaz de segurar espaço para toda esta complexidade, que chamo pensamento integral. É algo que esta comigo desde sempre e que tenho cultivado e trabalhado em mim.
Robb Smith destaca que o pensamento humano começou por estruturar a informação e o conhecimento em disciplinas (e.g. física, economia). Com as limitações desta abordagem surgiu a abordagem multidisciplinar (e.g. economia comportamental ou computação quântica). Hoje assistimos ao pensamento transdiciplinar que procura identificar as estruturas de pensamento que estão subjacentes as diferentes disciplinas (e.g. materialismo). E emerge outra forma de pensar, a que designo ‘arquetipico’ (arquetipico-disciplinar), que procurar estruturas em torno dos princípios fundamentais do universo, de pensar como os sistemas vivos pensam, fractal, holográfico.
Como exemplo de notar a ‘big picture’ chamo a atenção para o Great Reset uma iniciativa do WEF (um think thank privado fortemente defensor do capitalismo) para fazer um ‘reset’ ao capitalismo e que tem uma agenda de reset da economia mundial até 2030, através das empresas, que me faz sentir medo porque vai na direcção contrária à resilência e empoderamento das populações locais, aumentando o poder das corporações - o livro de 2020 é bem explicito na agenda. Segue antes a direcção das ‘empresas-nação’, do ‘capitalismo de vigilância’ e das Sociedades das Empresas (em vez das Sociedades da Nações) - distopia que a série Altered Carbon desenvolve. É particularmente assustador a parceria entre o WEF e as Nações Unidas para atingir os ODS, com mais do mesmo que tem criado a situação actual como por exemplo a alimentação baseada em OGM e industrial. Os ODS são excelentes. E há formas de os atingir que para mim vão na direcção errada: acentua cada um dos mecanismos das 5 crises. Para mim a direcção é a que os mundojogos como game-b, possibility management, teoria U e desenvolvimento regenerativo apontam.
O tempo que vivemos precisa destas capacidades: de segurar o espaço para a cura e de segurar o espaço para a emergência, ao mesmo tempo que estamos vigilantes, que notamos o ‘todo’. De navegar estados líquidos e viver numa realidade experiencial em equipa, em comunidade.
Estas capacidades fazem parte dos meus dons, do meu valor não material.
(programa online sobre…) PENSAMENTO INTEGRAL
Em 6 sessões online de 1.5h, suportados pelo mapa da Teoria Integral, vamos explorar e experimentar como podemos construir visões integrais sobre um determinado assunto seja individual (e.g. emoções, meditação), grupo/ equipa ou comunidade (e.g. organização, gestão) ou do todo (e.g. educação, ecologia). E usar o pensamento integral, para fazer sentido e agir na Era da Transformação.
Das 18h30 às 20h em 27.Mar, 31.Mar, 3.Abr, 7.Abr, 10.Abr, 14.Abr
Contribuição consciente no intervalo de 90 a 150 eur.
Para mais informações ver o link.
(programa) um dia de… RELAÇÕES EXTRAORDINÁRIAS
Em um dia (8h), presencial, suportados pelo Possibility Management, vamos experimentar o que são relações extraordinárias e como as podemos co-criar nas nossas relações amorosas, nas nossas famílias, amizades, equipas e comunidades. Como podemos detectar e sair das relações ordinárias e as transformar em extraordinárias.
Das 9h30 às 18h30 em 5 de Abril, Carcavelos
Contribuição consciente no intervalo de 70 a 120 eur.
Para mais informações ver o link.
(programa) um dia de… EMPODERAMENTO EMOCIONAL
Em um dia (8h), presencial, suportados pelo Possibility Management, vamos experimentar as nossas emoções e como as podemos usar para criar vidas extraordinárias. O nosso corpo emocional não é um erro de desenho. É uma fonte de sabedoria que podemos aceder para nos cumprirmos como seres humanos.
Das 9h30 às 18h30 em 29 de Março em Carcavelos
Contribuição consciente no intervalo de 70 a 120 eur.
Para mais informações ver o link.
(programa) um dia de… SOCIEDADES REGENERATIVAS
Em um dia (8h), presencial, suportados por práticas como Teoria U, Possibility Management e Desenvolvimento Regenerativo, vamos explorar as sociedades regenerativas, como as distinguimos e o que podemos fazer para as co-criar a partir de hoje onde ‘estou’ (interiormente e exteriormente).
Das 9h30 às 18h30 em 25 de Março, Linda-a-Velha
Contribuição consciente no intervalo de 70 a 120 eur.
Para mais informações ver o link.
“E SE…” é um espaço no canal, onde crio possibilidades de experimentação (portais) para pessoas, famílias, equipas, organizações, comunidades poderem entrarem nas Sociedades Regenerativas e experimentarem modelos diferentes de colaboração, organização, financiamento, educação, bem-estar, …
É um espaço inspirado pelo livro E SE… do Rob Hopkins, co-fundador do Movimento Transição, que a Bambual Portugal publica em Português.
(os últimos) E SE…
E SE… a Janeira fosse cuidada por uma organização ? (e uma porta de entrada para a experimentação de novos modelos de organização e colaboração)
E SE... o espólio do Museu dos Valores fosse uma porta de entrada para a evolução cultural ?
Outros “E SE…” podem ser vistos no link.